Crítica: Hebe – A Estrela do Brasil

Por Rayana Garay

O longa “Hebe – A Estrela do Brasil“, distribuição de Warner Bros. e direção de Maurício Farias, retrata um determinado período da vida da apresentadora mais querida pelo país. Esse é um dos diferencias que acaba chamando atenção, pois quando se trata de longa biográfico sempre pensamos na trajetória percorrida até uma carreira consagrada. Mas o filme se torna ainda mais especial e com boas peculiaridades, porque mostra um outro lado da vida de Hebe Camargo.

Por de trás dos holofotes:

O período retratado ocorre em 1979, quando a artista enfrentava diversos problemas com a censura no Brasil, que embora tenha passado a era da ditadura, ainda não se tinha liberdade para se expressar. Hebe (interpretado por Andréa Beltrão) como todos já conhecem ou devem ter ouvido falar de sua personalidade forte, sendo reverente e coberta de glamour, sempre deu voz ao povo fazendo jus por ser tão querida e amada por todos. Nesse sentido, ela acaba não agradando pessoas do poder, por exemplo, que sempre criticavam suas atitudes, mesmo que ela saísse em defesa daqueles que não tinham tanta voz como o coletivo LGBT, os desempregados e as mulheres. Por não ter liberdade para falar o que pensa e também sofrendo diversas ameaças, Hebe acaba se demitindo da TV Bandeirantes preferindo sair com cabeça erguida do que aceitar as imposições que o governo impunha, ainda mais se tratando da economia que na época ocorria inúmeros desempregos, falta de verba, investimentos nos setores públicos, entre outras diversas situações que são retratados no longa.

Durantes as cenas que são dividas entre os ambientes de bastidores do programa e da sua vida pessoal, é mostrado a intimidade e problemas que a artista enfrentava. Como o ciúme doentio do seu segundo marido Lélio Ravagnani (interpretado por Marco Ricca), seu amor incondicional pelo filho Marcello (interpretado por Caio Horowicz), que teve com ex marido Décio Capuano (interpretado por Gabriel Braga Nunes), e a perda repentina de seu amigo cabeleiro Carlucho (interpretado por Ivo Müller), que acabou falecendo devido as complicações do vírus do HIV. Além disso, percebe-se os maiores prazeres da artista como admiração pelas músicas do cantor Roberto Carlos, a companhia das amigas e atrizes Nair Bello (interpretado por Claúdia Missura) e Lolita Rodrigues (interpretado por Karine Teles), como também suas preciosas e admiradas joias.

As causas que Hebe lutava:

Hebe Camargo sempre lutou pelo que acreditava, achava injusto a população passando fome enquanto o senado ficava vazio com os políticos fazendo feriadão. Achava injusto a economia do país estar afundando tendo o número de desempregados cada vez maior. Achava injusto não poder levar seus convidados, que não eram bem vistos pelo governo, para seu programa já que no dia que deixou a TV Bandeirantes quem estavam presentes eram as artistas Dercy Gonçalves (interpretado por Stella Miranda) e a Roberta Close (interpretado por Renata Bastos). E após a morte de seu amigo cabeleiro, quando já estava no SBT em 1986, Hebe passou a dar as informações sobre vírus da AIDS que era tão desconhecida pela população na época. Ela também defendia o empoderamento feminino, pois mesmo sofrendo agressões verbais e também sexuais, onde ocorre durante o filme uma cena de tentativa de estupro, ela ainda manteve seu casamento conturbado com Lélio.

Embora o filme apresente um determinado período da vida de Hebe, percebe-se um outro lado de sua vida, onde fora das televisões brasileiras enfrentava diversos desafios: quase ir presa e também não ter sua própria casa, pois morava com o marido Lélio.

É impossível não perceber a entrega que a atriz Andréa Beltrão fez para interpretar Hebe Camargo. Andréa consegue transmitir toda emoção e plenitude que apresentadora tinha com seu jeito extravagante, alegre e emocionante de ser. A atriz consegue proporciona sensações até mesmo difíceis para se descrever, mas é um trabalho lindo com toda dedicação vista em cenas. Mesmo acontecem com os atores Marco Ricca e Caio Horowicz , que proporcionaram cenários significativos para o clímax do filme. A fotografia pôde proporcionar diversas vivencias de bastidores da época, com tons mais acinzentados e cores papéis. O público terá a visão de quem está no palco olhando para a plateia; os movimentos enquanto ocorrem determina ação e o aproveitamento de detalhes como o reflexo do espelho, por exemplo. A trilha sonora também consegue transmitir emoções que foram encaixada de forma certeira pela produção.

O longa apresenta um outro lado de Hebe longe dos holofotes e que poucos conheceram: aquela Hebe que lutou, amou, brigou, empoderou e resistiu. Pois sua principal determinação era falar o que pensa sobre coisas erradas que afligia a população. A cada programa era um discurso importante retratado no filme. Foram lembrados também as figuras icônicas da época como o grupo musical Menudo, Chacrinha (interpretado por Otávio Augusto), Silvio Santos (interpretado por Daniel Boaventura), Dercy Gonçalves, Roberta Close, além das já citadas amigas Nair Belo e Lolita Rodrigues. Hebe foi importante para o impor respeito e pela luta do espaço da mulher na televisão brasileira, onde pôde retratar a passagem sobre empoderamento feminino.

Hebe – A Estrela do Brasil” não traz o registro de sua infância. Não é um documentário. Não é o programa da artista, esses materiais têm em diversos acervos que mantém a memoria e legado da apresentadora, além disso podem ser vistos no YouTube, por exemplo. O longa mostra como aconteceu os bastidores de um período importante para continuidade de sua carreira, tais como criação do seu bordão “A gente volta, já, já” e preferência de fazer o programa ao vivo para ter a sensação de falar diretamente com o público. Hebe Camargo sempre foi e sempre será essa reverente estrela com muito glamour e que hoje poderá ser visto nos cinemas brasileiros.

Hebe – A Estrela do Brasil
Maurício Farias
Nota: 4,5/5
Drama. 2h2m.

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