Crítica: It: A Coisa

It: A Coisa dispensa qualquer comparação com o telefilme de 90.

Por Juliano Pizzol

Quando foi lançada em 1990, a mini-série televisiva em dois episódios (lançado no Brasil como um filme de 3 horas em VHS duplo) “It: Uma Obra Prima do Medo” causou furor entre os fãs do cinema de terror, e não havia uma criança desta época que não se encolhesse de medo do sinistro palhaço interpretado por Tim Curry (conhecido pelo seu icônico papel em The Rocky Horror Picture show), porém, rever o telefilme nos dias de hoje se tornou uma árdua tarefa. Apesar da grande atuação de Curry e do bom elenco mirim, a série possui um péssimo elenco adulto, com atuações ridículas, que não condizem com a pesada carga emocional que demandam os personagens de King, talvez por conta do diretor Tommy Lee Wallace vir de uma carreira em efeitos especiais, bastante útil neste trabalho, mas evidenciando a total falta de pulso na direção.

Não é o caso da adaptação assinada pelo diretor Andy Muschietti, conhecido pelo seu trabalho em Mama. A sua direção pontual acrescida de um casting sensacional e o excelente roteiro de Chase Palmer e Cary Fukunaga trazem à tela do cinema uma produção mais fidedigna ao bestseller do mestre do horror Stephem King. É notável a influência de Fukunaga (famoso pela direção da primeira temporada da série True Detective) na narrativa, no modo como a câmera interage criativamente nas seqüencias que se desenrolam dentro da casa mal assombrada e nos esgotos, conduzindo a história com a tensão necessária em uma produção de terror deste nível.

Este filme, diferente da mini-série, divide a história em duas partes bem distintas, deixando toda narrativa da fase adulta dos personagens para o próximo capítulo. Na nova adaptação, o Clube dos Perdedores se consolida no final dos anos 80, diferente do original que se situa nos anos 60. Só esta simples diferença já possibilita uma estruturação narrativa superior, permitindo um bom desenvolvimento psicológico de cada um dos garotos e, principalmente, da menina Beverly Mars(Sophia Lillis), que nesta adaptação recebeu toda atenção devida para tratar de temas pesados como o abuso sofrido em casa e o próprio florescer da fase adulta. Outro destaque é o ator mirim Finn Wolfhard, o Mike da série Stranger Things, que interpreta o engraçado e tagarela Richie Tozier, ficando responsável pelos vários alívios cômicos, metralhados por Wolfhard em forma de referências aos saudosos anos 80.

Estas referências são também entregues pela belíssima direção de arte de Rosalie Board, fazendo um belo trabalho de recriação da época, com seus walkmans e relógios calculadora, e também na trilha sonora, que traz até mesmo o grupo New Kids on the Block entrando em pontos bem específicos, aliviando a tensão da arrepiante composição original de Benjamin Wallfisch, conhecido por compor da trilha sonora de V de Vendeta. Visualmente a película não deixa devendo, trazendo todo o gore esperado de uma adaptação do mestre King. Os monstros digitais possuem um design bastante criativo e é perceptível a escolha por efeitos práticos em algumas cenas, com destaque para a maquiagem do palhaço Pennywise, interpretado pelo ator escandinavo Bill Skarsgard, que realmente causa desconforto com a sua atuação e não deixa espaço para comparações com o Pennywise de Curry.

It: A Coisa, supera qualquer expectativa e nos entrega um filme muito mais coeso e fiel à história original, oferecendo um melhor entendimento do subtexto tratado na trama, que nos conta a história de superação de um grupo de crianças excluídas e vítimas de diversos tipos de abuso físico e psicológicos, unidos pelo trauma na forma do tenebroso palhaço Pennywise.

O filme tem sua pré-estréia marcada para hoje em todo o Brasil.

It: A Coisa.

De Andy Muschietti.

Terror/Thriller, EUA, 2017, 135min, 18 anos.

 

 

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