Emoji: O Filme – Animação da Sony é golpe publicitário nada disfarçado

Por Juliano Pizzol

Não espere ver teorias da linguagem de Hjelmslev ou um estudo das pictografias nas cavernas antes habitadas por homens primitivos, ou teorias sobre o simbolismo dos hieróglifos egípcios. Em Emoji: O filme, escrito e dirigido por Tony Leondis, a semântica e semiótica são jogadas na sarjeta e manipuladas de forma a seduzir um único público alvo; as crianças, futuras consumidoras de produtos e serviços virtuais do calibre de grandes empresas como Spotify, Twitter, Candy Crush e tantas outras marcas gigantes das redes sociais que fazem aparições nada tímidas nesta animação da Sony Pictures.

A premissa do filme é muito simples; garoto tímido tenta conquistar sua coleguinha se valendo de recursos tecnológicos proporcionados pelos apps do seu smartphone, onde vivem os emojis, criaturas que trabalham na cidade de Textopolis, também conhecida como o aplicativo de mensagens de texto do seu celular. Quando o protagonista Gene aspira se tornar o novo emoji favorito do garoto e falha na missão por conta de um bug, é iniciada a aventura em busca de sua reprogramação, com a ajuda de seu novo amigo Hi-5 e da emoji hacker chamada Rebelde.

Tecnologicamente a animação não traz nenhuma inovação, ficando muito aquém de produções semelhantes mais recentes, dando a impressão de ter chegado aos cinemas com pelo menos oito anos de atraso, e o design de personagem beira o ridículo, sendo inferior ao dos próprios emojis nativos da Android, mas ainda assim com forte apelo visual para as crianças, com personagens extremamente caricatos e por muitas vezes ofensivos, como o Panqueca de Peixe, muitas vezes inferiorizado por ser oriental, ou ainda pior, um cocô vestindo gravata branca, dublado originalmente por Patrick Stewart, o Professor Xavier dos X-Men.

O roteiro inconsistente deixa evidente ao que veio o filme, angariar futuros novos consumidores das marcas que explodem em cores na tela grande, fazendo o desserviço de até mesmo se contradizer na fraca mensagem positiva que tenta passar para os pequenos. Em dado momento do filme, o par romântico do protagonista enfatiza que deveríamos ser nós mesmos, quando ela é a única personagem no filme inteiro a esconder a sua verdadeira identidade. Em outro momento ela afirma não saber dançar, porém algumas cenas depois, quando revela a sua identidade, se põe a assobiar e rodopiar em passos de ballet com total maestria.

É claro que o filme não foi produzido tendo em vista pessoas da minha idade, e é importante passar o feedback do seu público alvo. Haviam três crianças acompanhando seus pais(também críticos)na sessão que participei, das quais duas afirmaram ter curtido a animação. Porém, tendo em vista que o filme visa um público muito jovem, o qual deve ser acompanhado pelos pais no cinema, me sinto no dever de alertar para o perigo deste tipo de animação extremamente comercial e nada educacional, que falha até mesmo em passar uma simples mensagem positiva: Várias curtidas em suas postagens e centenas de amigos nas redes sociais não são tão importantes quanto se ter uma única amizade verdadeira no mundo real.

A animação estreia nesta quinta, 31/8, nos cinemas brasileiros.

 

Emoji: O Filme

De Tony Leondis

Animação/Comédia/Aventura, EUA, 2017, 91min, Livre.

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