Notas, textos e tetos: encontro de lembranças perdidas

O que eu encontrei naquela gaveta fazia tempos que não lembrava. Deixei escondido para que ninguém pudesse saber. Entendia que se alguém encontrasse podia trazer à tona todo meu passado. Algo que queria deixar para trás. Mas naquela mudança acabei encontrando. “Antes eu do que outra pessoa”, pensei.

Revirei alguns papéis, fotos e lá achei este trecho: “A cada encontro eu vivo as emoções de como se fosse o primeiro. Mas quem ligaria? Então, deixo as cartas dentro da gaveta, para quem sabe um dia, eu volte a entregá-las novamente”. Hesitei. Não enviei, deixei esquecido e agora achei. Não saberia informar ao certo qual decisão tomar. Só queria que aquelas velhas cartas sumissem ou, que talvez, seu destinatário tivesse conhecimento. Pensei em enviar com o trecho acima, mas ele saiu sem ao menos mexer em sua gaveta. Bateu a porta. Disse que não voltaria. Fiquei na esperança.

Foram anos e nada. Nenhuma taça de vinho naquele sofá ou aquela conversa sobre o universo e como tudo está diferente. ‘Teve’ é nada. Aquela dor era constante, que acabei por me acostumar enquanto o vazio continuava. Já nem lembrava qual era o motivo. Mas sabia que assim era. Cotidiano que fazia parte dos meus planos. Até que encontrei um motivo para seguir. E logo agora, retorno a mudança encontro as malditas papeladas. Lembranças.

Não queria saber mais, pois aquela dor estava ali, não importava mais o motivo. Só quero dar o passo à frente. Foi então, que recebi uma ligação. Sai correndo pela casa para atender. Era minha mãe, querendo saber como estão as coisas e se finalmente estou feliz e em paz. Tadinha, privei muito tempo dela com meus choros e remorsos, agora nem acredita que a sua filha finalmente deu um passo a mais. Volto para o sótão e encontro minha melhor amiga cheia de caixas. Ajudo a descer e vamos em direção a nova casa.

Passa semanas e recebi uma visita: “A essa hora?”. Largo minha xícara de chá e paro de escrever meu livro. Dou de cara com o passado. Justo agora que estou vivendo o tão sonhado futuro. Surpresas e trêmula perguntou “O que queres”. “Recebi isto”, ele responde. Em suas mãos estavam as cartas, as que minha amiga enviou.  Mostrou tudo e contou tudo.

Ele pedia para ver sua filha, “mas que filha? Aquela que abandonou?”. Morta está, esbravejei. Não aguentou a partida, sofri com teu silêncio e adoeci. Deu meia volta e partiu novamente. Mal sabe ele, que mais uma vez partiu aquilo que restou de mim: nada.

 

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