Thiago Pethit apresenta o Brasil de 2019 em Mal dos Trópicos.

Foto: Rafael Barion

Uma das vozes mais potentes da música no Brasil, Thiago Pethit, lança o seu aguardado quarto disco. Mal dos Trópicos (Queda e Ascensão de Orfeu da Consolação) foi gravado em 2018 nos estúdios Diogo Strausz e Trampolim, conta com colaborações especiais, como Maria Beraldo tocando clarinete, e foi produzido e arranjado por Diogo Strausz, que estreia uma parceria promissora com Pethit. Como sugere o título, Mal dos Trópicos, é um conjunto de canções para tempos escuros. Junto com o álbum em todas as plataformas streaming, ele também lança uma série de áudio vídeos, dirigidos por Camila Cornelsen e com direção de arte da ManMade.

Ao longo das nove faixas do álbum, o músico e ator paulistano canta sobre a ausência de amor e esperança em uma São Paulo mitológica, onde lugares reais, como a Praça da República e o Edifício Copan, viram cenários para Pethit recriar o mito de Orfeu. Com o subtítulo Queda e Ascensão de Orfeu da Consolação, o disco reimagina o herói grego, cantor e poeta como um personagem urbano. Voltando de sua temporada no inferno em busca de Eurídice, ele se depara com um país em luto em pleno Carnaval, enfrenta seus demônios nas ruas da República e tem seu coração devorado pelas Bacantes nos bares da Consolação.

Mal dos Trópicos se inspira em clássicos do jazz, nas composições eruditas de Villa-Lobos, nas batidas do trip hop e nas poesias do paulistano Roberto Piva, poeta maldito dos anos 70/80. Além disso, tem participação orquestral do violista Marcelo Jaffé e de músicos do reverenciado Quarteto da Cidade de São Paulo, além do pianista pernambucano Zé Manoel, da cantora e compositora Maria Beraldo no clarinete, sua irmã, Marina Beraldo Bastos na flauta e Badé na percussão. O resultado são canções atmosféricas, de clima cinematográfico, e, ainda assim, profundamente brasileiras.

Na capa, com direção de arte de Pedro Inoue, parceiro de longa data de Pethit, eles produziram o que seria uma espécie de achado arqueológico. “A ideia veio do Pedro Inoue. Eu ‘quebrado e eternizado’, como se tivéssemos encontrado um achado arqueológico do período clássico e que pudesse se parecer comigo. Primeiro fizemos as fotos. Uma tarde de fotos em 360 graus, imóvel, com Rafael Barion. Depois as imagens foram computadorizadas pelo CLAN VFX e transformadas em um arquivo 3D. E por fim, o processo final de tratamento de imagem do Nicolas Leite, que foi o mais complicado. Pois esculturas têm uma feição própria e não exatamente humanas. Então, o processo foi basicamente esculpir uma estátua com características do período clássico, mas que ainda assim tivesse algo da minha feição“, conta.

Faixa a faixa

Abre-Alas é a primeira música do álbum e, como uma espécie de overture para óperas teatrais, a canção de apenas dois versos, faz referência ao retorno de Pethit à música, depois de quase cinco anos longe dos estúdios. “Este anúncio de canções para tempos sombrios tem arranjo orquestral inspirado nas obras de Heitor Villa-Lobos, e no mito grego abrasileirado por Vinicius de Moraes, em Orfeu da Conceição“, conta Thiago. Participam da gravação músicos renomados, como o violista Marcelo Jaffé, o Quarteto da Cidade de São Paulo, além da artista Maria Beraldo tocando clarinete.

Amor, ruínas e solidão. Em Noite Vazia, surgem menções poéticas à simbologia pagã e mitos gregos, como a Medusa e o Labirinto de Minotauro. “Eu não escrevo canções de amor. Mas canções sobre a ausência ou sobre a falta do amor. Sobre o abandono, o pedido de retorno, o lamento e a dor. Quando escrevo sobre amor, escrevo mais sobre mim do que sobre o outro. É sobre a solidão mais do que sobre amar. Noite Vazia fala sobre isso”, conta o artista. A música foi feita em parceria com Diogo Strausz, responsável também pelo arranjo de cordas e tem novamente a participação de Marcelo Jaffé, do Quarteto da Cidade de São Paulo, além do pianista e compositor pernambucano, Zé Manoel no piano rhodes. A canção foi a primeiro música lançada antes do álbum, a capa do single foi assinada pelo artista plástico, Samuel D’Saboia.

Com arranjo orquestral de cordas e sopros inspirados nos filmes noir e de espionagem dos anos 40, no jazz e nas batidas de trip hop, a canção seguinte, Me Destrói, é também sobre abandono e (auto)destruição. Participam da faixa Marcelo Jaffé, o Quarteto da Cidade de São Paulo e Maria Beraldo, além de sua irmã Marina Beraldo Bastos, na flauta.

Orfeu é uma música de poesia e arranjo sugestivamente lisérgicos que tem na cidade de São Paulo o cenário para a recriação do mito grego romântico do poeta e cantor que perde seu amor e, ao retornar do mundo dos mortos, tem o coração devorado pelas Bacantes (pelos bares da Consolação). No piano de armário, a faixa conta novamente com a participação de Zé Manoel.

A quinta canção do álbum, Teu Homem, trata-se de uma súplica de amor no fim do mundo. “A canção tem clima apocalíptico e o arranjo inspirado no cinema de espionagem, jazz e nas batidas de trip-hop“, diz Pethit. Mais uma vez, Maria Beraldo no clarinete e Marina Beraldo Bastos na flauta.

Inspirada pelo standard clássico de jazz, Cry Me a River, Rio é um desastre tropical em forma de súplica amorosa. “Tsunamis, tufões e outras tragédias naturais são embaladas em ritmo de bossa nova e jazz como mais uma súplica por um amor perdido“, reflete Pethit. E, na sequência, Nature Boy é uma versão da música escrita por Eden Abhez, um precursor da filosofia hippie nos anos 40 e 50. “Esse standard de jazz sempre foi uma das minhas músicas prediletas”, entrega o artista. A história do encontro com o garoto sábio, mágico e conhecedor do amor, é cantada a capella sob arranjo vocal, que teve participação especial do sexteto Seis Canta.

A oitava música leva o mesmo título do álbum e narra o trágico, porém esperançoso, final da trajetória heróica deste Orfeu urbano. Mal dos Trópicos é composição de Pethit com trechos da obra do poeta brasileiro Roberto Piva. Traz ainda Liana Padilha, poeta e cantora da banda NoPorn, em parceria na letra do poema falado. “Após uma temporada no inferno, o último dos poetas retorna ao mundo dos vivos, canta as dores de seu amor perdido, o luto, a destruição e o abandono. Encontra na República uma tribo de Bacantes que terminam por devorá-lo em frente a boate L´amour“, relata o compositor. O arranjo tem batidas de trip hop tropical, orquestração épica inspirada em Heitor Villa Lobos e clássicos do jazz, além de Manhã de Carnaval – de Luiz Bonfá, clássico do filme Orfeu Negro. Na gravação, Marcelo Jaffé, o Quarteto da Cidade de São Paulo e Maria Beraldo também participam, além de Badé na percussão.

Samba de Orfeu (Mal dos Trópicos Instrumental) é a faixa bônus do disco e apresenta uma versão instrumental orquestrada da música anterior. Aqui fica ainda mais explícita a inspiração em obras como os Choros, de Villa Lobos e os sambas da trilha de Orfeu Negro, de Luiz Bonfá. As participações especiais são as mesmas de Mal dos Trópicos.

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