DNA eco-social

Foto: Braian Ávilla e Rodrigo Ludwig

O consumo consciente está na moda

Hoje, fala-se muito em economia sustentável, marketing solidário, políticas de justiça etc. Pensar em outro mundo é possível, mas como pôr isso em prática? Um mundo onde não haja exploração animal para a fabricação de produtos que consumimos; um mundo onde a economia possa girar de maneira sustentável, com produtos veganos, gerados através de matérias-primas renováveis e recicladas, e que, além disso, promova empregos socialmente justos que gerem satisfação profissional e retorno financeiro de forma sustentável. Um mundo no qual as empresas valorizem atitudes como a preservação do meio ambiente, reciclagem, economia solidária, comércio justo e, de sobra, ainda promova o empoderamento dos seus funcionários. Será que a preservação do meio ambiente ainda está na moda? Existem ideias que provam que sim. Produtos veganos, gerados através de matérias-primas renováveis e recicladas podem ser fashion. E você, sonha com projetos que podem mudar o mundo?

Se sim, você não está sozinho. Há aproximadamente 12 anos nascia uma iniciativa que transformaria comunidades vulneráveis da Vila Getúlio Vargas, em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. No início a ideia era auxiliar os moradores mais carentes com doação de roupas, alimentos e brinquedos. Mas, não satisfeitos, um grupo de amigos, percebendo que apenas o assistencialismo não traria mudança real na vida daqueles jovens que recebiam doações passaram a oferecer oficinas para os jovens da região, na qual aprendiam noções de modelagem, corte, preparação e costura de calçados, afinal a região é calçadista e os idealizadores eram do ramo também. O Projeto foi evoluindo até que muitos jovens foram encaminhados para empresas da região e outros permaneceram, dando início a marca Villaget.

Empreendedorismo e sustentabilidade, dessa forma nasceu a Loja Villaget Re Criar, que através do Instituto Villaget (o grupo de amigos, lá do início) criou produtos com matéria-prima reciclada, contribuindo para um ciclo de consumo consciente. Assim, formaram uma marca Eco-social que gera renda às comunidades da Vila Getúlio Vargas. Para os cursos do Instituto, os quais participam mulheres, senhoras e jovens, formou-se uma parceria com as empresas da cidade, que doam os materiais necessários, como uma forma de reaproveitar seus resíduos.

Um desses parceiros é o Instituto Renner, que segundo Indiara Martins, coordenadora Pedagógica na empresa Instituto Villaget, procurou a loja, com o intuito de reutilizar seus resíduos, já que a empresa tem a preocupação de dar um destino consciente para seus resíduos, apoiar projetos sustentáveis e trabalhar no empoderamento de mulheres. “Juntamos as idéias e montamos este grupo de mulheres e senhoras, para se capacitarem e fazerem bolsas e brindes com os resíduos do Instituto Renner. A iniciativa deu super certo e hoje algumas senhoras que se capacitaram, já compraram máquinas de costura com a renda gerada nas vendas dos produtos em feiras e eventos”, conta.

O Instituto Renner abrange o Programa de Gestão de Resíduos Sólidos (PGRS), que tem como base um princípio de responsabilidade com o ciclo de vida dos produtos, no qual seja feito um descarte correto dos resíduos das lojas da empresa. O Formulário de Referência do Instituto Renner diz: “Pela existência da Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos,[…]somos responsáveis pelo gerenciamento dos resíduos gerados em nosso negócio, por qualquer descumprimento da legislação ambiental aplicável e, se for o caso, por qualquer dano ambiental causado por nossas operações”. E parte desse resíduo, hoje, vai para a Villaget.

Foto: Braian Avilla e Rodrigo Ludwig

Além da loja, o Instituto Villaget financia projetos de informática e reforço escolar para crianças de seis a quatorze anos, como prevenção a violência. E mantém parcerias que promovem cursos sobre geração de renda e empoderamento feminino para senhoras da região.

Foi assim que surgiu a oportunidade da loja participar de eventos como a Fenac e o Me Gusta, uma feira de Rua de Porto Alegre: “Os eventos do Me Gusta, são importantes, pois dão visibilidade à Villaget, é um evento de Rua, um movimento cultural, com público alternativo, que busca consumo consciente, o que combina com o conceito da marca”, explica Indiara.

A visibilidade é confirmada pela estudante de Publicidade e Propaganda, Larissa Schmidt, que conheceu a marca através da feira calçadista de Novo Hamburgo, a FENAC, e foi fisgada pelo DNA eco-social da loja: “A primeira vez que comprei tive uma aula sobre o projeto social que estava por trás do produto. No começo, o que mais agradou foi o estilo do calçado e o preço acessível, mas quando fiquei sabendo que era uma empresa ecológica, que usa produtos recicláveis, isso deixou tudo mais interessante”, relembra a estudante.

Segundo o Engenheiro Sanitarista e Ambiental Filipe Masiero, transformar materiais passivos em ativos é um dos principais desafios enfrentados hoje. “O que pode ser considerado resíduo para o processo produtivo de um determinado empreendimento pode ser matéria-prima para outros, essas ações contribuem para a diminuição do extrativismo de recursos naturais, da quantidade de disposição final de resíduos”, explica, salientando que esta atividade, hoje em dia, é realizada de maneira ambientalmente inadequada por alguns empreendimentos públicos e privados.

Atuante da área ambiental e principalmente dos resíduos sólidos, Masiero pôde acompanhar os serviços prestados à comunidade e ao meio ambiente desempenhados por associações, cooperativas, ONG’s e artesãos nas atividades de coleta e segregação de materiais recicláveis para beneficiamento no próprio empreendimento ou para clientes interessados em utilizar o material em seus produtos. “Como associações que reutilizam banners para confecção de sacolas, bolsas, carteiras, estojos dentre outros produtos e artesãos de latinha de alumínio e de garrafas plásticas (PET)”, exemplifica.

E mesmo com a consciência de que parte da população ainda não se atentou à importância do consumo consciente, ele acredita que iniciativas como essas são modelos a serem seguidos: “ Essas atitudes contribuem significativamente para o bem-estar social, proteção dos recursos naturais, à biodiversidade e preservação do meio ambiente, geram oportunidades de renda à populações necessitadas, erradicação da pobreza, desenvolvimento do pensamento conservacionista e, consequentemente, diminuição da pegada ambiental global”, pontua, e frisa que para ser sustentável não somente deve ser ecológico, reciclado ou que impacte menos ao meio ambiente, além disso é necessário que abrace a causa social e econômica no processo.

Masiero pensa que a conscientização ambiental possa surgir por disseminação de informações nos meios de comunicação e interatividade ou simplesmente por moda. “Acredito que iniciativas como essa devem surgir com maior frequência nos próximos anos, tendo em vista o aumento de pessoas interessadas no consumo consciente, seja por consciência frente às questões ambientais, ou simplesmente por moda, sem grande percepção dos impactos que pode evitar, desde o desenvolvimento do produto, escolha de matéria-prima, processo de fabricação e destinação final”, impõe, destacando também a questão social em si, que considera de grande importância para mantermos uma sociedade justa com oportunidades dignas e concretas aos mais necessitados.

Por Nahiene Alves

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